17.4.11

Ai(nda) Weiwei: sunflower seeds

Ai Weiwei - Sunflower seeds, 2010

















Não resisti ao trocadilho (hor-ro-ro-so, eu concordo) com o nome do artista Ai Weiwei, sobre o qual escrevi no post anterior.
Quis voltar à Weiwei para comentar sobre a instalação que ocupa atualmente o subsolo da Tate Modern, em Londres, chamada 'Sunflower seeds'. Em toda a extensão da área, o artista espalhou um enorme tapete de pequenas peças em porcelana que imitam sementes de girassol. Novamente, como em tantas situações da produção artística contemporânea, a obra se faz na interação - e, certamente, com o esforço de compreensão - do espectador. Se entrarmos no ambiente e olharmos rapidamente aquela vasta extensão coberta de pequenas sementes, corremos o risco de nem mesmo percebermos que elas não são naturais.
E a história do enorme esforço realizado para a sua execução é interessantíssima! Weiwei mobilizou muitos moradores de Jingdezhen, uma província chinesa conhecida pela produção de porcelana, para 'fabricarem' as sementes. Foram 1.600 pessoas confeccionando artesanalmente, uma a uma, as pequenas contas malhadas em preto e branco. O processo está descrito no vídeo abaixo, que também é disponibilizado no site da Tate (Tate Modern| Current Exhibitions | The Unilever Series: Ai Weiwei ) e no local da exposição.
É claro que depois de assisti-lo, o contato com a obra se enriquece. Podemos pensar nessa banalização do consumo na sociedade atual, que faz com que as mercadorias simplesmente 'apareçam', como se tivessem apenas 'nascido' - e não tivessem passado por um processo complexo de fabricação, atrás do qual estão milhares de pessoas. Podemos pensar em um mundo onde tudo está cada vez mais homogeneizado, tornando difícil que reconheçamos as diferenças e sejamos vistos como aquele monte de sementes aparentemente iguais. Podemos mesmo pensar no paradoxo vivido pela China, um país que se tornou um fortíssimo produtor das mercadorias que o mundo inteiro consome, mas que sofre uma tensão que o coloca entre ser uma das principais molas da produção capitalista contemporânea e, ao mesmo tempo, um país com uma cultura milenar.
Vi a instalação de Weiwei em novembro passado, em Londres. A sua dimensão é impressionante, a quantidade de sementes espalhada é enorme, e o vídeo colabora imensamente para que a obra nos toque e nos diga algo. Mas, como toda produção artística de qualidade, para além de tudo isso, é a emoção que nasce no espaço obra-espectador que dá a sua real dimensão. A instalação de Weiwei certamente nos faz pensar. Mas, mais que isso, nos emociona.


3 comentários:

  1. Oi querida...
    Achei impressionante!
    Mas sabe o que me fez pensar o que li aqui, já que não vi a instalação ao vivo?
    Mas graças as tuas palavras, sempre tão bem colocadas e repletas de sentimentos... e no filme que compartilhastes, a gente pode se sentir mais perto e pensar mesmo sem ter visto.
    Pensei na força do conjunto, tanto para fazer a obra, quanto da obra em si.
    O que seria do autor se a obra só dependesse dele? Sozinho que capacidade teria?
    E o que seria da obra se ela fosse feita de uma semente? Sozinha que força teria?
    Acho que a obra tem a capacidade que tem graças às mãos, que de forma impressionante a fizeram tão delicada. E a força, para suportar o peso do mundo que interage com ela, graças a inúmeras peças que a compõe...
    A interação é a busca, mas muitas vezes agride. Muitos sucumbem. Mas é preciso o conjunto com o mesmo objetivo, para se ter força para alcançar o que se busca.
    Achei lindo!
    Deu vontade de ver
    obrigada por compartilhar
    Sempre fico diferente quando venho te visitar ;)
    Beijuuus

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  2. Y., querida, lindíssima essa tua análise. Tenho um grande prazer em comentar sobre as coisas que me emocionam, e fico ainda mais feliz quando desperto reações como essa expressada pelas tuas palavras.
    Concordo contigo, a obra apenas como semente, o artista sozinho, o público sem possibilidade de interpretação, tornam-se coisas isoladas, sem nenhuma possibilidade de (inter)ação. Nada age junto para constituir outra coisa. Juntas, essas três coisas são poderosas! Obra, artista e público bem sintonizados podem muito em termos de estimular a sensibilidade...
    Eu também sempre fico diferente quando paro, penso sobre algo e escrevo. Mais ainda quando vejo comentários como esse seu.
    Muito obrigada e beijos grandes!

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  3. Sem palavras! Apenas os passos de Ai Weiwei sobre as sementes de porcelana me emocionou. Depois falo com vc sobre isso. Agradeço a postagem.
    Cida Ramaldes

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