7.4.11

Epígrafes


Adoro epígrafes. Acho que elas fornecem um 'mapa' para quem vai começar a ler um texto, seja este de que ordem for: conto, crônica, ensaio, artigo, romance.
É como se quem escreveu o texto tentasse condensar o que irá dizer nas tantas páginas que se seguem naquela frase inicial, naquele trecho, naquela citação. Para mim, é como se ele me dissesse: 'Olha, o que vou tratar nesse monte de letrinhas que estão à sua frente é mais ou menos isso aqui. Dá uma olhada para ver se te interessa...'.
Acho interessante verificar a forma como, de acordo com as mudanças na obra de um autor, ele também vai modificando o tom das suas epígrafes, e vice versa. Um dos escritores brasileiros que mais gosto é o carioca Rubem Fonseca. E adoro a habilidade com a qual ele lança mão das epígrafes nos seus livros! Cada uma delas dialoga com as que lhe antecedem e sucedem, dando origem quase a uma narrativa à parte.

Mas, na verdade, esta conversa toda é por conta de um livro lindo, que possui uma das epígrafes mais bonitas que já li, e que diz:

"A missanga, todas a vêem.
Ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai compondo as missangas.
Também assim é a voz do poeta: um fio de silêncio costurando o tempo"

A epígrafe abre o livro de contos 'O fio das missangas'
, do escritor moçambicano Mia Couto.

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