"Os franceses são grosseiros"."Franceses não tem paciência com quem fala mal o idioma".
"Falta calor humano na França".
Quem já não ouviu essa afirmações? Sempre apresentadas como resultado de vivências concretas, elas passam a povoar o nosso imaginário como verdades absolutas. Como só tinha vindo antes na França como turista, não me sentia apta a questionar ou avalizar nenhuma delas. Havia passado por algumas (poucas, na verdade) experiências ruins aqui, assim como também já passei por situações desagradáveis no Rio ou em São Paulo.
Agora, depois de um mês lidando com a burocracia francesa e com os parisienses nos seus diversos locais - faculdade, comércio, banco, restaurantes, e mesmo na rua - me sinto um pouco mais segura em relativizar TODAS as 'verdades absolutas' acima. Não, os franceses não são grosseiros. Talvez para o nosso temperamento mais caloroso, eles possam parecer, por vezes, diretos demais, mas grosseria é outra coisa. Nessa minha curta experiência, por enquanto, tive excelentes surpresas: ganhei solidariedade, simpatia, até elogios. Abri conta em banco, coloquei cartas no correio, fiz compras em supermercados, me inscrevi na faculdade, em seminários e em bibliotecas e, em nenhum lugar sequer, fui tratada com menos do que respeito. Em alguns casos, as pessoas simplesmente saíram dos seus postos para ir comigo em alguma outra seção me ajudar a conseguir o que queria.
Essa foi a minha experiência até agora. Não é a de todos. Já conversei com amigos aqui da Maison que passaram por situações chatas e desagradáveis, nas quais tiveram que brigar para conseguir algo. Mas, também no Brasil, quantas vezes já não nos exaltamos em bancos ou nos balcões de algum órgão público?
Claro, o 'je suis desolé, madame...' continua em pleno vigor por aqui. Mas não é nada que apague o sol do nosso dia.