30.3.10

Eu acho que vi um Van Gogh...











Pessegueiro em flor - Vincent Van Gogh - 1888















Vi sim!

Franceses

"Os franceses são grosseiros".
"Franceses não tem paciência com quem fala mal o idioma".
"Falta calor humano na França".

Quem já não ouviu essa afirmações? Sempre apresentadas como resultado de vivências concretas, elas passam a povoar o nosso imaginário como verdades absolutas. Como só tinha vindo antes na França como turista, não me sentia apta a questionar ou avalizar nenhuma delas. Havia passado por algumas (poucas, na verdade) experiências ruins aqui, assim como também já passei por situações desagradáveis no Rio ou em São Paulo.
Agora, depois de um mês lidando com a burocracia francesa e com os parisienses nos seus diversos locais - faculdade, comércio, banco, restaurantes, e mesmo na rua - me sinto um pouco mais segura em relativizar TODAS as 'verdades absolutas' acima. Não, os franceses não são grosseiros. Talvez para o nosso temperamento mais caloroso, eles possam parecer, por vezes, diretos demais, mas grosseria é outra coisa. Nessa minha curta experiência, por enquanto, tive excelentes surpresas: ganhei solidariedade, simpatia, até elogios. Abri conta em banco, coloquei cartas no correio, fiz compras em supermercados, me inscrevi na faculdade, em seminários e em bibliotecas e, em nenhum lugar sequer, fui tratada com menos do que respeito. Em alguns casos, as pessoas simplesmente saíram dos seus postos para ir comigo em alguma outra seção me ajudar a conseguir o que queria.
Essa foi a minha experiência até agora. Não é a de todos. Já conversei com amigos aqui da Maison que passaram por situações chatas e desagradáveis, nas quais tiveram que brigar para conseguir algo. Mas, também no Brasil, quantas vezes já não nos exaltamos em bancos ou nos balcões de algum órgão público?
Claro, o 'je suis desolé, madame...' continua em pleno vigor por aqui. Mas não é nada que apague o sol do nosso dia.

27.3.10

Brasil 0 x 1 Armênia

Não valia mais nada, o time do Brasil já está classificado para a próxima fase, depois de duas vitórias contra o time da Holanda, mas... perder para a Armênia?!? Na verdade, é tudo esquisito nesse campeonato das Maisons: o jogo tem dois tempos de vinte minutos, não tem juiz, técnico não existe e pode-se substituir quantas vezes quiser os jogadores. Enfim... o jogo foi só um detalhe. O bom mesmo foi o almoço coletivo depois.


















24.3.10

Collège de France

Certo, me senti uma deslumbrada. Mas não pude evitar de me emocionar ao assistir a minha primeira aula no Collège de France. O lugar existe desde 1530! Foucault, Bourdieu, Lévi-Strauss e Bergson deram aula aqui! As aulas são em anfiteatros enormes, repletos de gente e extremamente confortáveis. Estou assistindo ao curso do Phillipe Descola, sobre 'ontologia das imagens'. Genial.

20.3.10

Primavera


A primavera começa a dar sinais que não será uma pura abstração. A cité está cheia de brotinhos de flores, a sensação é a de que, de uma hora para outra, o mundo vai explodir em cores! Esta semana melhorou um pouco a temperatura, mas, em compensação, chove.
Começaram a fazer um filme em frente à minha janela, na rua da Maison de L'Inde. Voltamos do supermercado e estava tudo interrompido. Descobri, espantada, que a cité é bastante utilizada como cenário de filmes. Esta semana, na Fondation Suisse, está acontecendo um ciclo de filmes que foram realizados aqui. Por falar em cinema, alguém colocou um cachecol amarelo no busto do Meliés... Quem disse que francês não tem senso de humor?


15.3.10

Maison du Brésil







































É uma sensação curiosa morar em um prédio a respeito do qual se estudou. Lembro claramente das aulas de História da Arquitetura na faculdade, e as menções à Casa do Brasil na França, projeto de Lúcio Costa e Le Corbusier. Agora me pego olhando pequenos detalhes do meu apartamento, das escadas, do auditório, do hall de entrada e relembrando das aulas e dos preceitos da arquitetura moderna. Todos os dias - não é exagero, desde que cheguei, foram todos os dias mesmo - há grupos de estudantes ou visitantes que aparecem para conhecer a Maison. Me sinto uma privilegiada por morar aqui.

12.3.10

Inverno















Final de tarde de inverno. Muito frio (-4ºC), mas um sol magnífico. Olhando pela janela da cozinha, até dá para começar a acreditar que um dia vou me acostumar a morar nesta cidade...

10.3.10

Sans Soleil - Chris Marker

"Dentro do ritmo frenético do cotidiano, lugar de acumulação e eco, o Cineasta abre uma hipótese: a de ele próprio ser imagem. Movimentando-se dentro da cidade, o olhar perdido entre a velocidade das luzes, as galerias subterrâneas, os rostos fantasmagóricos que vêm e que passam, surgem e desaparecem, o Cineasta acaba duvidando de sua própria função dentro dos campos de percepção: "Me pergunto se estes sonhos são realmente meus, ou se fazem parte de um conjunto, de um gigantesco sonho coletivo, do qual a cidade seria uma projeção". As imagens mostram filas humanas, e o Cineasta se interroga se cada mente contida naquela multidão não estaria ali, construindo aquele espaço: "O trem, cheio de pessoas que dormem, junta todos os fragmentos dos sonhos, e faz deles um só filme, o filme absoluto". E, mostrando imagens da enorme massa passando nas catracas do metrô, com seus bilhetes, comenta: "Os bilhetes do distribuidor automático tornam-se tíquetes de entrada". Tudo não passa de um grande sonho, um grande filme, sonhado e dirigido por você, por mim, por todos nós".
Bolivar Torres, sobre 'sans soleil' do cineasta Chris Marker

Marker, em 'Sans Soleil', se questiona: quanto de realidade compõe a vida cotidiana? Estaremos todos em um enorme sonho, particular a cada um, do qual conseguimos nos encontrar em pequenos instantes e apreender apenas minúsculos pedaços, divididos com aqueles que nos são mais próximos, e, ainda assim, sem nunca termos a certeza de que estamos tratando das mesmas questões? O que é a realidade, afinal? Como diferenciá-la do sonho? Quem nos garante que isso que tomamos como concreto não é fruto de um longo devaneio?

Vários outros escritores e cineastas tomaram essas questões como algo que inspirou as suas obras. Mas Marker talvez seja o que vai mais longe nos questionamentos, justamente por não tentar nos fornecer nenhuma resposta. As suas perguntas inquietantes pairam no ar, feito bolhas de sabão. Frágeis como a própria existência. O nome deste blog é uma homenagem às questões levantadas por ele em 'Sans Soleil'. Ele nasce com um tempo de vida preciso: o tempo necessário para compartilhar um sonho de vida, um sonho de cidade, o sonho de uma busca. Se a vida é um sonho, que ele seja compartilhado. Avec soleil.