29.11.11

Pontes lançadas sobre o abismo dos desejos


Tese terminada. Ponto final colocado e, ato contínuo, aquela pergunta inevitável: e agora, José?
Não faço parte daquele grupo que, finalizada a etapa do doutorado, vai à caça dos concursos nas Universidades Federais. Não sei se por sorte ou azar, passei no primeiro concurso que fiz, ainda recém saída da graduação, quando ainda pensava que ser arquiteta seria passar a vida desenvolvendo projetos de residências, lojas, restaurantes.
Fui aprovada no concurso e... voilà!, me vi entrando em uma rotina de alunos com alguns poucos anos a mais que eu, aulas que me faziam - e fazem, até hoje - acordar às seis da manhã e ir dirigindo com cara de zumbi até entrar nas salas repletas de pranchetas, e, atrás de cada uma delas, uma carinha também sonolenta que me cumprimentava com aquela palavrinha que passou a me designar incessantemente: 'bom dia, prof!'
Enfim, sou professora há muitos anos. Tantos, que hoje já tenho alunos que formaram, fizeram mestrado e dividem as salas de aula junto comigo, o que, confesso, me dá um super orgulho...
Mas, e a tal da pergunta? E agora, José? Tese terminada, aulas retomadas, o que fazer com os últimos cinco anos da vida nos quais a rotina era acordar, tomar café e sentar no computador para escrever?
Ainda não tenho a resposta para isso. Mas, confesso, já sinto o enorme vazio que o término de um trabalho deste porte causa. Por enquanto, ainda tenho uma desculpa para não encará-lo, ao vazio, de frente: a defesa! E é ela que vem a se tornar o motivo deste post. Afinal, algumas pessoas acompanharam desde o início a minha ida para Paris - que foi o motivo inicial para criar o blog -, as experiências vividas lá, o meu retorno e os meses finais de escrita. Nada mais justo que, agora ao final, sejam convidadas, ainda que virtualmente, para a defesa!
Tive sorte de conseguir que fizessem parte da minha banca pessoas que leio e admiro há muito tempo: o meu orientador, claro, Robert Pechman; os professores do Instituto de Planejamento Urbano e Regional da Ufrj no qual faço o doutorado, Ana Clara Torres Ribeiro e Luiz Cesar Queiroz Ribeiro; e os professores Rubens Machado, da Eca Usp e Nelson Brissac Peixoto, da Puc Sp.
A defesa, então, será dia 16 de dezembro, uma sexta feira, às 10 horas da manhã, no Auditório do Ippur, 5º andar do prédio da Reitoria, no Campus do Fundão, Ufrj. É lá que as minhas "Pontes lançadas sobre o abismo dos desejos: uma investigação sobre o diálogo entre cidade e cinema" terão sua estrutura colocada à prova...
Mandem boas energias e torçam por mim!
Quanto a minha perguntinha com a qual iniciei o texto... de vez em quando voltarei aqui para dar notícias das respostas que, certamente, irei descobrindo para ela.

2.11.11

Pessoas admiráveis


George Tooker - Landscape with figures

De vez em quando paro para pensar em quanta gente admirável há no mundo. Em todos os tempos, em todas as culturas, temos pessoas que, em algum momento, conseguiram se elevar acima da sua própria realidade para enxergá-la mais do alto, traçando um panorama a partir desta visão mais larga.
Penso nisso de maneira abrangente, em diversas áreas: na filosofia, sociologia, física, ciências naturais. Nas artes, então, não dá nem para esmiuçar. Ser artista é, de alguma maneira, ter essa 'antena' ligada o tempo inteiro para o que está ao redor, fazendo, com suas obras - sejam elas livros, pinturas, filmes - uma interpretação (ou, à vezes, antecipação) da realidade.
Mas comecei a falar desse assunto por causa de um homem em especial. Um alemão que viveu na virada do século XIX para o XX e, olhando as profundas modificações que aconteciam na forma de vida daquele momento, resolveu analisá-las. E como o fez! Georg Simmel escreveu sobre a sociedade, o amor, o dinheiro, a moda, a arte, as formas que as pessoas têm de se agruparem e as maneiras como escolhem à quais grupos pertencer... Muito antes de ouvirmos a respeito das 'tribos' que passaram a transitar pelas grandes cidades ao final do século XX, Simmel já tinha escrito sobre elas, ainda que não as tenha nomeado desta maneira.
Ele foi o primeiro que, olhando para Berlim, aquela cidade que crescia cada vez mais rapidamente, começou a pensar em algo que ninguém havia pensado antes: 'como é que essa vida atinge a psique dos indivíduos?' ou 'quais as consequências da vida metropolitana para a subjetividade dos que dela compartilham?' Simmel via as pessoas vivenciarem situações até então inéditas, como sentar-se à frente de outras pessoas em um bonde e permanecer ali algum tempo em absoluto silêncio. Para nós, acostumados à impessoalidade dos contatos na metrópole contemporânea, pensar nisso exige um esforço, já que esse comportamento é mais que naturalizado entre os cidadãos de qualquer metrópole nos dias de hoje. Simmel pensou nestas questões e em muitas outras, construindo uma obra vasta e que se derrama por múltiplos assuntos.
E agora, um século depois, como ficam as teorias do sociólogo? A partir desta questão, está sendo organizado um seminário na Ufrj, nos dias 17 e 18 de novembro.
Pensadores de diversas áreas estarão lá, conversando sobre a obra de Simmel e o seu lugar na metrópole contemporânea. A filósofa Olgária Matos, os historiadores Maria Stella Bresciani e Robert Pechman, o psicanalista Joel Birman, a socióloga francesa Claudine Haroche, dentre outros, estarão lá dialogando sobre Simmel e, especialmente, sobre o papel do seu pensamento nas metrópoles dos dias atuais.
Para quem quiser maiores informações, há um blog sobre o evento aqui.
Eu também estarei lá. Falando sobre cinema, claro!