19.12.12

Desabafo

Gosto de gente que fala coisas que eu consigo entender.
Gosto de quem é direto. Não precisa escrever bem. Isso já seria um bônus. Não quero (sempre) literatura, embora a ame de todo o coração. Quero quem fale o que tem a dizer. Direto. Sem tergiversações. Sem firulas. Sem cortinas de fumaça. É isso. Pronto.
Não gosto de quem se faz hermético por prazer de ser 'difícil'. Ou, pior, pelo receio de ser compreendido na sua pequenez. Poucas coisas me irritam mais do que essa confusão que é muito comum: 'não entendi, o sujeito que fez deve ser muito inteligente'.
E detesto quando me engano. Começo a ler - ou a ouvir, ou a assistir -, em um primeiro momento parece que tem algo ali, mas é que nem algodão doce: a gente coloca um montão na boca e acaba com uma pastinha de açucar minúscula.
Abomino gente que tem opinião sobre tudo. Da crise no Oriente Médio ao novo disco daquela banda mega alternativa, o sujeito tem algo a dizer.
Gosto de gente que encara o mundo sem véus, sem se esconder atrás de palavras que podem encher os olhos, mas que, a um olhar mais atento, se revelam no que são: camadas protetoras. Air bags de sentimentos. Protetores covardes contra ela: a vida.
Quero olho no olho, voz inflamada, paixão explícita, ainda que seja para discordar de mim. Antes um opositor honesto - e que creia, sinceramente no que defende, mesmo que eu possa achar um absurdo - do que alguém que sai pela tangente, vai até a página vinte e desiste.
Hoje li uma frase bobinha no facebook que teve o poder de me fazer parar prá pensar: 'a vida é muito curta para cafés ruins'. E eu... concordo, ple-na-men-te! Substituindo os 'cafés' por qualquer outra coisa, decidi fazer desta frase minha resolução/lema/ bandeira para 2013.
Pronto, desabafei!...

17.12.12

Is the end...

... of the world as we know it and I feel fine...


Andei pensando - como todos nestes últimos tempos - na tal profecia dos Maias que prega que tudo se acabará daqui há alguns dias. E, pensando bem, essa história de fim do mundo é uma coisa bem saudável. Finais são saudáveis. Doem algumas vezes, dão medo em outras, mas sempre nos fazem olhar em volta, reavaliar, mexer naquilo que não está assim tão bom, mas que deixamos como está, porque,... 'ah, você sabe né, não está tão ruim afinal'.... e assim seguimos, justificando para nós mesmos a nossa preguiça ou pouca disposição em modificar o que nos rodeia, em sair do lugar, em dar reviravoltas. Até que o Final, aquele com letras maiúsculas, nos atropela sem aviso prévio e zera nossas contas, muito provavelmente nos deixando com aquela cara de 'ué, acabou?...'.
Assim, pequenos finais - ainda que apenas fictícios - têm esse aspecto positivo: nos tiram da nossa zona de conforto. E nos acenam com novas oportunidades, possibilidades, retratos de vidas alternativas novinhas nas quais podemos consertar o que ficou errado, fazer melhor o que foi mal feito, dar mais atenção ao que passou despercebido e colocar tudo na devida perspectiva.
Gosto da idéia de que, a qualquer momento, ou em um momento que escolhemos a dedo, podemos dar fim a algo e abrir caminho para outros inícios. Gosto de ritmos: a sequência das estações e as mudanças climáticas, os finais de ano nos quais nos enganamos que a partir dali será tudo diferente, o final do mês no qual sabemos que daqui a alguns dias um salário inteirinho estará à nossa espera, pronto para ser usufruido, o final da semana que temos todo para fazer o que quisermos. Gosto da perspectiva de ter pequenos e grandes finais, e, sobretudo, de pequenos e grandes começos.
Sou professora e, no meu trabalho, essa sempre foi, a meu ver, uma enorme vantagem: meu percurso tem início, meio e fim. A cada semestre, tenho, junto com novos alunos, uma outra oportunidade de fazer melhor o que fiz mais ou menos, estudar mais os pontos que achei fracos, reavaliar todo o processo para fazer de maneira mais eficiente. 
Experimentar finais que são sempre uma possibilidade de recomeço. Até o dia em que venha o final definitivo. Que nesse dia, possamos olhar para trás sabendo que fizemos muitos 'ensaios' de finais, começos e recomeços, que nossos medos não tenham nos paralisado e nossas experiências tenham sido suficientes para se sobreporem aos nossos arrependimentos. 
Afinal, como diz a música do R.E.M., qualquer dia pode ser o fim do mundo tal como o conhecemos... e, que se assim o for, que seja como sonhou Montaigne: "que a morte me encontre plantando as minhas couves sem pensar nela e menos ainda na imperfeição da minha horta".
Um feliz final do mundo para todos!