Bem em frente à Cité Universitaire fica o Parc Montsouris, um parque não muito grande, mas lindo, onde foi filmado o último episódio do filme 'Paris, je t'aime'. Gosto mais ou menos do filme, há seqüências muito bonitas dentre os vinte e um curtas que o compõem (e que são locados nos arrondissements de Paris), inclusive a que é dirigida pelo brasileiro Walter Salles. Há outras, porém, que, a meu ver, não merecem atenção.
A última história, dirigida por Alexander Payne, sempre, sempre, que assisto, inevitavelmente, me arranca lágrimas. Ela é locada no 14eme arrondissement - na verdade, ela passa por vários locais da cidade e termina neste bairro -, exatamente no Montsouris. Trata do preciso momento em que conseguimos captar a alma de uma cidade, aquele instante no qual deixamos que ela entre de verdade em nosso coração - e que nunca diz respeito à locais indicados pelos guias turísticos, ou aqueles que já estamos cansados de ver em fotos.
A protagonista, após vagar por toda a 'Paris' dos turistas, subitamente, se vê sentada no parque, observando crianças brincarem. É ali que acontece: ela cai de amor pela cidade. É lindo e emocionante.
Eu já conhecia o parque, mas na primeira vez que voltei ao Montsouris nesta minha experiência de um ano morando aqui, me peguei com os olhos cheios de lágrimas. Foi inevitável lembrar essa cena do filme, e fazer a ligação dela com as minhas expectativas sobre a cidade. No filme, a atriz termina dizendo algo como: 'foi ali que eu me apaixonei por Paris. E foi ali que Paris se apaixonou por mim'.
Era o meu primeiro dia como moradora dessa linda e assustadora cidade e eu estava no Montsouris. Tudo fascinava. Tudo dava medo. E era inevitável me perguntar se eu me apaixonaria por Paris e se Paris se apaixonaria por mim. Era ainda inverno e o parque tinha um aspecto um tanto árido, com os canteiros nus e as árvores sem folhas. Tudo ainda era uma grande esfinge a me olhar de viés e questionar: quem devoraria ou decifraria quem? Eu e a cidade: seríamos um caso de amor ou uma cansativa batalha durante um ano?
Hoje, depois de quase dois meses aqui, fui, pela primeira vez, fazer um piquenique em um Montsouris totalmente diferente: as flores desabrocharam e o sol saiu. É, finalmente, primavera em Paris. O Parque, que já era lindo, ficou ainda mais deslumbrante. E, sim, senti que ao menos esse pequeno pedaço de Paris se apaixonou por mim.