11.10.11

E quem disse...


...que precisamos ir muito longe para encontrar temas interessantes para fotografar?
O cronista capixaba Rubem Braga dizia que "Aprender uma cidade é na verdade uma coisa lenta. É preciso saber alguma coisa e precisamos andar distraídos, bem distraídos para reparar nessa alguma coisa...”
Dando continuidade ao raciocínio do escritor, podemos afirmar: a distração, longe de ser desatenção, pode ser muito produtiva.
Hoje acordei com o olho distraído, mas 'desperto' para aquelas cenas muito triviais que nos cercam e, às quais, normalmente não damos muita atenção. E, quase sem sair do lugar, dentro da minha casa, descobri um mundo!
Seja na cena trivial do café da manhã com o reflexo inusitado da luminária, seja em detalhes das - muitas! - construções que me cercam, na primavera que - ainda tímida - começa a aparecer, nos vizinhos conversando na varanda... meu dia ficou, de repente, mais rico em imagens.
Daí, quis compartilhar com vocês.









3.10.11

Mentirinha...

Pois é, me dei conta que, inadvertidamente, contei uma mentira aqui.
Sim, estou nos momentos finais de escrita da tese. É verdade, isso me faz ter muito menos disponibilidade para escrever coisas que não sejam relacionadas a ela. Também acabo indo muito menos ao cinema, já que este é meu tema de pesquisa e assisto muita coisa em casa, filmes pertencentes a períodos específicos (fechei a parte do cinema mudo, atravessei a dos filmes dos anos trinta e estou entrando na fase dos romances noir dos anos quarenta) que são o meu objeto de pesquisa.
Enfim, estou sim, menos disponível, em função do foco neste último capítulo da tese e da vontade de dar por encerrada essa etapa da minha vida que me fez despender tanta energia e implicou em tantas e tão profundas transformações.
Mas, apesar desta pouca disponibilidade para o mundo, a literatura... Ah, esta eu não consegui deixar de lado! Ela é oxigênio para o fogo das minhas idéias, gelo para a fervura das minhas crises de inspiração, sangue que alimenta meu vampirismo por novos pensamentos, anestésico para a sempre constante dor de viver!
Não concebo o mundo sem leitura. Sou daquelas que carrega livros na bolsa e no carro, 'just in case'. Vai que você enfrenta uma fila inesperada no banco. Vai que aquele médico demora muito a te atender. Vai que... sei lá. A impressão que tenho é que, se estou com um livro, pode acontecer de tudo e tenho um bom companheiro: o fim do mundo deve ser menos aterrorizante se você estiver com um livro prá ler quando tudo passar.
Daí, depois de todas essas explicações, me desculpo pela mentirinha inadvertida que preguei, consertando: abro mão de muita coisa, mas dos livros, não!
Essa semana comecei a ler um autor com o qual não tinha muito contato. É um começo um tanto tardio, mas, talvez por isso mesmo, extremamente prazeroso.
E daí, não resisti: trago mais uma postagem daquela série 'deve ser falta do que fazer', de tanto tempo atrás. Quem ficar curioso, o post original está aqui.
Enfim, o trecho que me fez parar desta vez é esse:

"Há lugares em que morre o espírito para que nasça uma verdade que é a sua própria negação. Quando estive em Djemila, havia vento e sol, mas isto é outra estória. O que é preciso dizer, antes de tudo, é que lá reinava um silêncio pesado e compacto - algo como o equilíbrio de uma balança. Pios de pássaros, o som aveludado de uma flauta de três furos, um patinhar de cabras, rumores vindos do céu, ruídos todos que faziam o silêncio e a desolação desses lugares. De vez em quando, um estalido seco, um grito agudo, assinalavam o vôo de um pássaro escondido entre as pedras. Cada caminho seguido, atalhos em meio aos restos das casas, grandes ruas lajeadas sob as colunas luzidias, forum imenso entre o arco de triunfo e o templo numa colina, tudo leva às ravinas que de todos os lados bordejam Djemila, baralho aberto para um céu sem limites."

O autor, tão poético e tão tardiamente descoberto por mim? Albert Camus. O livro, lindo, delicioso de ler e que me faz parar, encantada, a cada página, é 'Bodas em Tipasa'.