
Conversando com amigas em um desses sábados à noite nos quais parece que tanto faz se você sai ou fica em casa, desde que seja com as companhias certas, surgiu o assunto, velho conhecido de Freud: 'afinal, o que querem as mulheres?', imediatamente traduzido por nós em outra pergunta, mais condizente com a nossa geração e amplamente cantada pelos Titãs no final dos anos oitenta: "você tem fome de que?"
De sapatos à abraços, de arte à atenção, de conhecimento à brigadeiros, passando por noites tranquilas, salários justos, boa companhia e bons vinhos, foram muitas as respostas que surgiram, deixando claro o grau de complexidade, não apenas das mulheres, mas dos quereres de qualquer um. Varia com a idade, com as vivências, com o momento que se atravessa.
Um ponto em comum: desejo é complicado... sempre! Desejar é se colocar no mundo, fazer valer a sua vontade e, acima de tudo, se conhecer. E quanto mais nos conhecemos, mas escapamos dos clichês armados pelo desejo socializado, domesticado, apresentado pela publicidade como legítimo, válido, aceitável, aquele que, quando alcançado, teria o poder de resolver, por si, os problemas de toda e qualquer pessoa. Parafraseando Augusto de Campos ('poesia é risco') e Guimarães Rosa ('viver é perigoso'), arriscaria afirmar: desejar é se colocar em risco. E, certamente, é perigoso. Vida e poesia, portanto.
Como sempre, a arte traduz essa questão de uma forma que vai além das simples palavras, extrapolando a filosofia, a sociologia, a psicanálise e de tudo o que já se pesquisou sobre os mecanismos através do qual o desejo se constitui. A artista plástica norte-americana Jenny Holzer, ciente dos riscos que estão implicados em assumir desejos - sejam estes de que ordem forem -, desenvolveu sua série 'Truisms', nos anos 90. Nela, a artista apropriou-se da linguagem publicitária - na forma de painéis luminosos, out-doors, cartazes, flyers - para nos alertar: "proteja-me do que eu desejo".