"Dentro do ritmo frenético do cotidiano, lugar de acumulação e eco, o Cineasta abre uma hipótese: a de ele próprio ser imagem. Movimentando-se dentro da cidade, o olhar perdido entre a velocidade das luzes, as galerias subterrâneas, os rostos fantasmagóricos que vêm e que passam, surgem e desaparecem, o Cineasta acaba duvidando de sua própria função dentro dos campos de percepção: "Me pergunto se estes sonhos são realmente meus, ou se fazem parte de um conjunto, de um gigantesco sonho coletivo, do qual a cidade seria uma projeção". As imagens mostram filas humanas, e o Cineasta se interroga se cada mente contida naquela multidão não estaria ali, construindo aquele espaço: "O trem, cheio de pessoas que dormem, junta todos os fragmentos dos sonhos, e faz deles um só filme, o filme absoluto". E, mostrando imagens da enorme massa passando nas catracas do metrô, com seus bilhetes, comenta: "Os bilhetes do distribuidor automático tornam-se tíquetes de entrada". Tudo não passa de um grande sonho, um grande filme, sonhado e dirigido por você, por mim, por todos nós".
Bolivar Torres, sobre 'sans soleil' do cineasta Chris Marker
Marker, em 'Sans Soleil', se questiona: quanto de realidade compõe a vida cotidiana? Estaremos todos em um enorme sonho, particular a cada um, do qual conseguimos nos encontrar em pequenos instantes e apreender apenas minúsculos pedaços, divididos com aqueles que nos são mais próximos, e, ainda assim, sem nunca termos a certeza de que estamos tratando das mesmas questões? O que é a realidade, afinal? Como diferenciá-la do sonho? Quem nos garante que isso que tomamos como concreto não é fruto de um longo devaneio?
Vários outros escritores e cineastas tomaram essas questões como algo que inspirou as suas obras. Mas Marker talvez seja o que vai mais longe nos questionamentos, justamente por não tentar nos fornecer nenhuma resposta. As suas perguntas inquietantes pairam no ar, feito bolhas de sabão. Frágeis como a própria existência. O nome deste blog é uma homenagem às questões levantadas por ele em 'Sans Soleil'. Ele nasce com um tempo de vida preciso: o tempo necessário para compartilhar um sonho de vida, um sonho de cidade, o sonho de uma busca. Se a vida é um sonho, que ele seja compartilhado. Avec soleil.
ADOREI...
ResponderExcluirMuitão!!
E acabei de descobrir que tenho um?!
rsrsrs
Não sei quando fiz e não sei mecher... :P
(sem comentários!)
beijuuus grandes
YARA
"...sem nunca termos a certeza de que estamos tratando das mesmas questões?"...
ResponderExcluirTá lindamente explicado Eliana, pois a origem é imutável! ... avec soleil.
Bejo lotado de saudades
Peinha
Muito bacana a abordagem: partícipes de um sonho coletivo. Não havia percebido a vida por essa ótica ainda. Curti.
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