9.2.11

"Foi o que meu coração ditou"










1989, dias depois da queda do Muro de Berlim. O músico russo Mstislav Rostropovich leva seu violoncello para a frente de uma das partes ainda existentes do muro. Senta-se em um banquinho e... toca. Sem fazer alarde disso, sem avisar a imprensa, nada. Só ele e a música. Felizmente para nós, alguém que sabia a dimensão daquele artista que se apresentava ali, filmou parte do concerto.
Vi pela primeira vez este vídeo no Museu 'Checkpoint Charlie', em Berlim. Em meio a tantas histórias interessantes (o museu narra as tentativas - bem e mal sucedidas - das fugas que aconteceram durante todos os anos em que o muro dividiu a cidade), este vídeo talvez tenha sido o que mais me tocou. Simplesmente porque ele deixa explícito um dos maiores poderes da arte: o de fazer política.
Rostropovich, defensor dos direitos civis na União Soviética, foi destituído de sua cidadania por defender a liberdade, perseguido por suas idéias, teve amigos presos e, mais tarde, acabou se tornando um dos líderes do movimento democrático que floresceu no país e conduziu à abertura. Um homem profundamente engajado e envolvido com os rumos políticos da sua nação. No momento desta vitória, porém, neste momento histórico da queda de um muro que originou a expressão 'muro da vergonha', e que, desde 1961, dividia um país, uma cidade, famílias, vidas, e a própria história, este excepcional artista escolhe... simplesmente exercer a sua arte!
Questionado depois sobre o motivo de tê-lo feito, o músico respondeu: "Foi o que meu coração ditou".

P.S.: Aos amigos que têm me perguntado se continuarei com o blog, ainda não tenho uma resposta definitiva. A motivação para o seu início foi manter, durante o ano da minha estadia em Paris, em relato da experiência, e contato com as pessoas que havia deixado aqui no Brasil. Havia pensado em finalizá-lo quando retornasse. A experiência, porém, mostrou-se tão prazerosa para mim que tenho pensado em continuar, agora com o objetivo inverso: manter a ligação com os amigos da França. E, tentar, ao mesmo tempo, desenvolver mais os assuntos que me interessam: arte, cinema e cidade.

Um comentário:

  1. Continue! Nao nos prive da beleza curva das palavras, sem expressando a apreensao do mundo pelo sensivel. E mais que um instrumento para se comunicar pelo alem mar. Ler teus post e sempre ums viagem pelo sublime, riqurza valiosa neste mundo de crescente fastlife

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