16.4.11

Les adultes terribles












Template, 2007
(exposto na Documenta XII, Kassel. Uma composição com portas e janelas de templos destruídos na China)



Forever bicycles, 2003
(exposta na Bienal de arte de São Paulo em 2010. 42 bicicletas da marca mais vendida no país)














Coca-cola, 1994 (Vaso da dinastia Ham com logotipo da Cola-cola)

Snake Ceiling, 2009
(Instalação de teto realizada com 360 mochilas)




"Arte? Ah, a arte preenche nosso tempo, nos relaxa, nos diverte..." Quantas vezes já ouvimos declarações semelhantes à essa? Acho muito curioso escutá-las, e ver que muitas pessoas ainda se referem à arte como se fosse essa espécie de 'parque de diversões' para adultos.
E aí acontece um episódio como esse que vem se desenrolando nas duas últimas semanas, envolvendo o artista plástico chinês Ai Weiwei.
Weiwei é um dos artistas contemporâneos chineses mais conceituados atualmente. Sua obra, permeada por um forte caráter político, sempre incomodou ao governo chinês, e ele foi mantido, nestes últimos anos, sob uma cerrada vigilância. O artista é um excelente exemplo de uma arte contemporânea que procura, cada vez mais, uma forte interlocução com seu espectador. Podemos mesmo dizer que seu trabalho, muito mais que aquilo que é concretamente exposto nas galerias ou museus, acontece na percepção de quem entra em contato com ele, em uma interseção entre arte, estética, filosofia, política.
Weiwei já trabalhou com diversos temas. Uma de suas últimas obras foi realizar um esforço para reunir os nomes de todos os estudantes chineses mortos no terremoto de 2008. Pode parecer banal, mas a questão central é que estes alunos estavam dentro de escolas que desabaram e que, possivelmente, tenham sido construídas pelo governo chinês com a utilização de materiais mais baratos e inadequados.
E no domingo, dia 3 de abril, Weiwei foi preso, no aeroporto de Pequim. Mantido até hoje incomunicável, é acusado de ações subversivas contra o governo chinês.
Um grupo de artistas está organizando um protesto mundial contra a prisão, chamado "1001 chairs for Ai Weiwei", que consiste em, neste domingo, 17, sair de casa com uma cadeira e sentar-se à frente de um edifício governamental chinês, seja em que país for.
Há algum tempo atrás, utilizava-se a expressão 'enfants terribles' para se referir a esse tipo de artista questionador das regras já estabelecidas. O significado (algo como 'crianças levadas'), sempre teve um viés meio pejorativo, na minha opinião. Era como se esses homens, que estavam pensando e questionando muito seriamente coisas longamente colocadas como 'dadas' - ou seja, coisas postas como algo inquestionável - , estivessem seguindo apenas um certo impulso infantil de 'bagunçar' a ordem tão tranquilizadora do mundo.
O abuso e a arbitrariedade do governo chinês são, obviamente, inaceitáveis. Mas não consigo deixar de pensar que, ao menos, eles reconhecem com clareza o poder da arte. As crianças cresceram. E ameaçam governos. Foram promovidas à 'les adultes terribles'...

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