21.11.12

MMA emocional

Não entendo nada de lutas. Aliás, acho uma maneira absolutamente horrorosa de passar o tempo ficar olhando dois sujeitos se engalfinhando na tela da TV, como parece ser do gosto de tanta gente nestes últimos tempos. Daí o meu espanto, quando, conversando com um amigo dia desses, ele me disse: "Na verdade, o grande segredo dessas lutas é saber apanhar. Vence o combate quem permanece mais 'inteiro' até o final, e aí consegue se sobrepor ao adversário. É uma espécie de inteligência".
Na hora não dei muita importância, confesso que o tema me interessa muito pouco. Mas, algum tempo depois, lembrei disso, ao assistir o filme "E agora, para onde vamos?", da diretora Nadine Labaki. A história se passa em uma pequena vila no interior do Líbano, onde convivem, em relativa paz, católicos e muçulmanos. O lugarejo é bem isolado e, para assistir televisão, os moradores têm que levar o aparelho (o único da cidade) para o alto de uma montanha, onde a recepção do sinal se dá. Na primeira noite em que o fazem, porém, uma notícia é veiculada: um novo conflito acaba de ser detonado por motivos religiosos no país. As mulheres, com a sua habitual - e às vezes irritante - mania de prestar atenção em várias coisas ao mesmo tempo, são as primeiras a perceber a novidade que está se desenhando na tela: o país está prestes a mergulhar em uma nova contenda, e, em sua esteira, mais mortes desprovidas de sentido, mais viúvas, mães e órfãos se questionando porque estão sem aqueles que amam. Mais perdas. E, cansadas de todo esse panorama que conhecem tão bem, dão um jeito de distrair a atenção de seus maridos e filhos para que estes não notem o que começa a acontecer no resto do país. Pois é, é a tal da sabedoria que só tem quem está cansado de apanhar...
O filme prossegue se equilibrando em cima deste muro, que separa não apenas diferentes religiões, mas também homens e mulheres, os que sabem e os que não sabem do que está se passa no restante do Líbano.
E foi esse aspecto da história que me chamou a atenção: embora não sejam elas as principais protagonistas desta contenda, são as mulheres que mais sofrem. Por uma simples razão: são elas que ficam. Os homens morrem. E elas se tornam jovens viúvas vestidas de preto ou mães idosas que sofrem a ausência dos filhos. 
E ficar, convenhamos, é muito mais difícil que partir. Quem fica, tem que lidar: com a perda, com as questões, com o remorso, com a dor. Tem que lidar com a própria vida que continua. 
E é assim que, cansadas dessa rotina que lhes rouba precocemente maridos e filhos, as mulheres da aldeia se unem, independente de suas partições religiosas, para evitar maiores perdas. 
As idéias que elas lançam mão para atingir seu objetivo são extremamente originais, e através das suas estratégias, se constrói um filme delicado, divertido, denso, triste e comovente. Um filme de dor, mas que a trata com sabedoria e leveza. Acima de tudo, um filme que nos lembra que, para além de todas as diferenças, afinal (e no final), vamos todos para o mesmo lugar.




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