3.5.13

As paixões que dão tempero à vida

Adoro história. Bom, nada a estranhar, não seria professora de História da Arte se não amasse ambas: a arte e a história. E como toda pessoa que gosta de história, tenho meus períodos preferidos. Tenho fascínio pela história medieval, pelo século do renascimento italiano, pelos tempos do Iluminismo francês, pela Belle Époque que marcou a virada do século XIX rumo ao XX. Os anos da Segunda Guerra Mundial, porém, estão no topo da minha lista pessoal.

Acho que para todos nós que temos a exata dimensão de que devemos o que somos hoje - de bom e de mau - a este período conturbado, e ao desenho de mundo que resultou dele, este é um momento que atrai a atenção. Já li muito coisa, já visitei vários locais que foram importantes naquele momento, já vi museus que recriam com fidelidade o período (um dos mais interessantes e completos, na minha opinião, é o musée de l'armée, em Paris).

Mas, sobretudo, me chama muito a atenção a profusão de material imagético - fotografias e filmagens - sobre a Guerra. A Segunda Guerra foi a primeira na qual as imagens, já estabelecidas como forma de linguagem, se espalharam pelo mundo e pela história; dando uma noção bem aproximada de como foram aqueles anos. 

Acho fascinante pensar nisso: enquanto milhares estavam se deslocando de seus países, armados até os dentes, treinados para lutar; outros fizeram o mesmo, armados apenas... com câmeras! E, para mim, é sempre motivo de espanto constatar: essas pessoas estavam arriscando as suas vidas da mesma maneira que os soldados. Ou talvez, até mais, já que as suas 'armas' não lhes serviam para defesa. Vejo documentários sobre aquele período e, junto com o fascínio natural de tentar imaginar como tudo se passou, há, atravessado nisso, um outro sentimento. Algo como: 'cara, o mundo tá acabando em volta do sujeito e ele lá, só com uma câmera!'. Não consigo evitar de me emocionar.

E hoje me vi novamente tomada por esta sensação, ao assistir um belíssimo trabalho do cineasta George Stevens, que foi para a França especialmente para registrar o desembarque dos Aliados na Normandia. Esse documentário é uma pérola, e, além de tudo, colorido, o que era raríssimo nas cenas de registro do conflito neste período.





Achei uma versão integral de "D day to Berlin" no Youtube e resolvi compartilhar aqui. Está em inglês, sem legendas, mas mesmo para quem não tem o domínio da língua vale a pena. Vale a pena por pela delicadeza de algumas cenas, pela crueza de outras; pela humanidade que vemos aflorar nos soldados ouvindo Glenn Miller nas horas de descanso; pelo humor que alguns demostravam, a despeito de estarem em meio ao inferno; pelo horror - e, ao mesmo tempo, uma estranha espécie de beleza - das cidades devastadas pelos bombardeios. Vale a pena, sobretudo, por ser o resultado do trabalho de homens que desempenhavam suas atividades rotineiramente nos seus seguros estúdios de cinema e, de repente, se viram em meio às balas e aos bombardeios, 'apenas' para registrar tudo. Vale a pena pela paixão que está por trás de cada cena, e pela estranha capacidade de nos transportar através do tempo e da história que estas imagens parecem ter.




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