21.3.12

il faut bien s'adapter!


Há muito tempo atrás, li em algum lugar um texto sobre a facilidade de adaptação do homem às mudanças, por mais radicais que estas possam ser. Lembro que o texto dava um exemplo: se você está andando à beira de um lago ou piscina e cai na água repentinamente, em pouquíssimos segundos já adapta o seu corpo aquele novo meio. Os movimentos mudam e você consegue sair daquela situação sem problemas. Molhado, mas vivo. É claro que se você já tiver tido antes a experiência de movimentar-se na água, será mais fácil e rápida a adaptação e você correrá menos riscos.
Tenho lembrado deste texto nestes meus primeiros dias aqui em Paris. Por um lado, tudo é diferente: o clima, o idioma, a cultura, a morfologia da cidade, as maneiras corretas de nos comportarmos em cada situação. Mas, por outro, já tendo tido a experiência de morar aqui antes, é impressionante a rapidez com que alguns hábitos retornam e é possível começar a construir uma rotina nesta cidade ao mesmo tempo tão distante e tão familiar.
São muitos os pontos de contato - físicos ou não - que permitem que seja desenvolvida uma ponte entre o meu real no Brasil e este retorno às terras francesas. Reconhecer com facilidade algumas coisas, torna mais fácil esta adaptação. Da familiaridade com a rede intrincada do metrô que transforma o subsolo da cidade em um queijo suiço e se espraia por toda a sua extensão através de estações novas e outras com mais de cem anos (adoro passar pelas estações que serviram de abrigo contra os bombardeios da Segunda Guerra e ficar imaginando as cenas desenroladas ali...) nas quais sempre escutamos o indefectível 'attention a la marche en descendent du train', ao reconhecimentos de alguns comportamentos e hábitos tipicamente parisienses, como a irritação melancólica que acomete a todos da cidade quando faz frio, e o 'espírito de girassol' que se apossa de todo mundo no final da tarde, responsável por cafés lotados e cadeiras viradas em direção ao calor do sol poente, são muitos os momentos nos quais olho a cidade e penso: 'ah, isso eu sei o que é!...' E daí me sinto um pouco menos 'estrangeira'.
Enfim, depois destes poucos dias já consigo, um pouquinho, me sentir 'em casa'. E essa é uma sensação reconfortante para alguém que está absolutamente sozinha em um outro país. Os únicos que ainda estranham muito são os meus dedinhos mindinhos que, todo dia quando chego em casa e os liberto das botas e dos saltos, me olham com aquela carinha triste que só os dedinhos mindinhos sabem fazer, como se me dissessem: 'Nós não acreditamos que você vai fazer a gente passar por tudo aquilo de novo... Olha só, já estamos machucados.... Má! Eliana má!'

8 comentários:

  1. Eliana,
    Tenho que ser solidária com seus dedinhos... Tão melhor uma havaiana nos pés à caminho de Manguinhos. Mas também tenho que dizer... Ah como é bom exercitar o cerébro e os hábitos (bons).
    Bejo
    Peinha

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    1. Pois é, Peinha, meus dedinhos ainda estão sofrendo, mas o resto de mim está aproveitando ao máximo essa curta estadia! Beijos!

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  2. Eli, sabe aqueles textos que você começa e não quer que acabe de tão "gostoso" que eles são?! Sim! A gente pode não sentir o sabor na ponta da língua, mas falo do prazer em ler, porque é possível viajar no tempo, participar da tua história, compartilhar sensações, sentidos, sentimentos...Delícia de texto, continue escrevendo e eu continuarei lendo...

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    1. É engraçado Lu, que escrever no blog quando estou fora me parece uma maneira de estar mais perto sabe? Acho que é por isso que acabo escrevendo mais quando estou por aqui... Obrigada pelo incentivo, de vez em quando vou contando um pouquinho mais das minhas experiências na cidade. Beijos!

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  3. Aii que feliz, como é bom o retorno...como ja passei por isso fiquei aqui so imaginando...
    Bj!!

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    1. Pois é, Pocilla, fica tudo mais fácil não é? A gente já sabe como a cidade 'funciona' e consegue se acostumar muito mais rápido! Beijos, linda!

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  4. Realmente ... uma delícia de texto ... como me lembro de suas aulas tão envolventes.
    Acabei de conhecer o Blog e já adorei!

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    1. Obrigada, Eliane! Pelo elogio ao blog, mas, sobretudo, pelo elogio às aulas! Muito bom saber que alguns alunos ainda lembram delas com prazer! Beijos!

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