17.5.10

Prazer

Dando continuidade ao post anterior, no qual falava da minha visita a Giverny e do soberbo trabalho de Monet, no jardim e nas telas:
Fiz a visita com três amigos, de áreas bem diferentes da minha: linguística, farmácia e engenharia. Quando fomos visitar o museu dos impressionistas, que fica também em Giverny, bem próximo do jardim de Monet (recomendo também a visita ao museu, é pequeno, mas está com uma seleção interessante de obras dos impressionistas, incluindo telas de Gustave Caillebotte, que eu adoro!), foi inevitável que eu fizesse um pouquinho o papel de 'tradução' das obras para eles, dando uma contextualizada no estilo e nos principais temas da pintura impressionista. Nada de excepcional, só algumas informações para que eles aproveitassem melhor a visita. Para mim é uma coisa natural falar sobre isso e não me 'soa' como trabalho, ao contrário, é sempre prazeroso.
Ao retornar, conversando com um dos amigos que estava junto, engenheiro, algo que ele disse me chamou a atenção: ele falou da inveja que sentiu ao me ver falar sobre o meu 'trabalho' com tanto prazer. Eu argumentei dizendo algo que para mim era óbvio: que geralmente temos prazer com a área na qual escolhemos fazer nossos estudos. Ele, então, me disse algo que me soou estranho: 'Não é assim para todo mundo. Se alguém vier conversar comigo sobre o meu trabalho em um bar durante o final de semana, vou dar um jeito de cortar o assunto'. Achei espantoso, por mais que agora, olhando retroativamente, o meu espanto pareça ingênuo. É claro, pensando racionalmente, que ele tem toda razão: nem todos tem prazer com seu trabalho. Me dei conta então, do óbvio: a enorme diferença de exercemos algo que nos preenche, nos complementa, passa a nos constituir e nos dá uma sensação de 'conexão' com o mundo. A arte, o cinema e a cidade, meus eternos objetos de estudo, me dão isso. É muito bom, depois de tanto tempo, chegar a essa conclusão: se tivesse que escolher de novo, faria tudo exatamente igual.
Para acompanhar essa reflexões um tanto quanto óbvias, mais fotos de Giverny. Ainda com a câmara velha. Mas... já estou com a minha Nikon Coolpix P100 novinha! Só falta me acostumar com ela...








































4 comentários:

  1. Tá vendo??? Se com a pobre da velha câmera você "faz" estas obras de arte, imagina com a nova??? Estarei presente nos próximos passeios viu? Começando pela Champs Elysee esse fds.

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  2. Depois de quase um ano retornei ontem a Giverny... Ahhh! É lindo! Mas faltou alguém para eu ouvir um pouquinho ao invés de só ver... Acho que quanto mais sentidos a gente é capaz de usar, mas a gente é capaz de sentir! ;)
    Tõ precisando de uma máquina nova, a minha tá nas últimas, só funciona quando quer :S
    --
    Quanto ao seu post... fiquei pensando um tempo sobre ele... e, talvez, o fato da pessoa não falar sobre o seu trabalho no bar, não signifique exatamente que ela não tenha prazer. Ou será que tem?
    Às vezes acredito que apreciar, como sentir, faz parte da natureza humana. Assim quando se fala de paisagens, pinturas, música, leituras, comida... que são "coisas" que passam pelos sentidos... todo mundo sente (de jeitos diferentes). Assim, este assunto pode ser sempre acompanhado pelo ouvinte. Mas se tu passares a falar de coisas muito técnicas (mesmo sobre estes assuntos), o ouvinte nem sempre é capaz de acompanhar e o interesse se torna menor... e assim falar sobre isso, para algumas pessoas, não se torna tão prazeroso.
    Porém penso que problema é que: existem áreas que a parte técnica se tornou o próprio trabalho e esse se distanciou muito do objeto que pode ser sentido. E assim, quando este fala dele para alguém que não é capaz de acompanhar e sentir aquilo, essa pessoa não se interessa... e assim, não se torna prazeroso falar sobre ele, por mais que ele seja prazeroso para quem faz!
    Não sei se viajei muito... mas fiquei pensando muito nisso!
    Porque adoro o que faço, mas as vezes falar sobre o que eu faço não me parece tão agradável aos que estão ouvindo.
    Claro que existem formas e formas para se falar algo... é preciso encontrar uma agradável...
    Não sei...
    é só uma viagem! ;P

    beijuuuuus

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  3. Concordo contigo, talvez 'prazer' possa mesmo não ser o termo adequado para expressar essa sensação de que, na verdade, não existe essa separação entre o 'trabalho' e a 'vida'. E, sim, a nossa atividade pode nos fornecer satisfação pessoal e ainda assim não ser o nosso motivo preferido para uma conversa no final de semana.
    Mas, na verdade, a minha questão era sobre o quanto algo sobre o qual estudamos, pesquisamos ou trabalhamos passa a nos constituir de forma indissolúvel, nos permeando com valores e visões de mundo.
    A arte e o cinema, para mim, representam isso: a possibilidade de uma sensação de pertencimento ao mundo. Talvez seja essa sensação que eu tenha tentado 'simplificar' com a palavra 'prazer'.
    Beijos grandes!

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  4. Não creio que esteja simplicando a palavra prezer. Há todo um prazer em apreender e dar sentido ao que se apreende do mundo sensível através da sensibilidade, primeira e fundamental forma de se inserir no mundo.

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