15.5.10

Vida como arte

Monet - A ponte japonesa















Cena do filme 'Amor além da vida'









Onde acaba a arte e começa a vida? É inevitável ficarmos com essa questão rondando a nossa mente quando visitamos os jardins de Giverny, construídos por Monet para a sua residência e, mais que isso, para fornecer ao pintor o material sobre o qual ele mais gostava de trabalhar: a profusão de cores e elementos da natureza.
Ontem vivi essa experiência extraordinária: me sentir mergulhada em uma das telas do pintor. Não encontro palavras que dêem conta do que é essa sensação. Uma amiga que estava junto comigo na visita resumiu de forma interessante, lembrando um filme antigo chamado 'Um amor além da vida', dirigido por Vincent Ward, na qual um homem (Robin Willians), depois da morte, tenta encontrar a alma daquela que foi sua mulher (Anabella Sciorra) e que se suicidou. Não gosto muito do filme (tenho implicância com narrativas permeadas por valores religiosos), mas reconheço que a direção de arte de Tomas Voth e Christian Winterr é primorosa, especialmente nas cenas na qual o ator vai parar dentro das pinturas. E foi exatamente assim que me senti ontem, ao passear em Giverny.
No meu caso, há um dado que torna a experiência ainda mais interessante: como sou professora de história da arte, durante muito tempo falei, para meus alunos, a respeito de obras que amava mas só conhecia de longe. E, ao longo dos anos, já aprendi: a cada vez que tomo contato real com um dos exemplares de arte que admiro, tenho a mesma reação: começo a chorar. Foi assim ao ver o 'Nascimento de Vênus' de Botticelli, em Florença, há quinze anos atrás. Foi assim, quando, desavisadamente, entrei em uma sala do museu 'Reina Sofia', em Madri, e dei de cara com 'Guernica'. Já chorei em frente a obras de Pollock, Rothko, Caillebotte, Matisse. A sensação é a de que meu mundo fica maior, mais colorido, com mais sol.
Mas ontem foi a primeira vez que senti meus olhos úmidos com um jardim. Porque Giverny é muito mais que um jardim: é um depoimento de vida. Poderia dizer - correndo o risco de soar piegas - que é uma obra de amor. Amor de um pintor por sua arte, que é maior, muito maior que apenas a suas telas. Mas, sobretudo, o que Monet nos deixa com Giverny é um depoimento, concreto, e formado por muitas cores, formas e cheiros, sobre a beleza e a riqueza da vida.
Recomendo, fortemente, a visita, para os que estiverem pensando em passar por Paris. É perto, quarenta minutos de trem, saindo da estação Saint-Lazare (curiosamente uma das gares mais pintadas por Monet) até Vernon. De lá sai uma navette até Giverny, ou pode-se alugar uma bicicleta por dez euros (custa doze, mas, se pedir, o preço abaixa) e pedalar cinco quilômetros. É um passeio que deve ser feito sem pressa, separando o dia inteiro para ele, e, se possível, em um dia de sol na primavera. Há alguns restaurantes próximos, mas também é possível comprar sauduíches e vinho e fazer um piquenique, como nosso pequeno grupo de quatro amigos fez. Resumindo: um dia delicioso!


















2 comentários:

  1. Noooooooossa vocês foram lá?! Aiiiii... Não vou reclamar, pois estava num lugar lindo e com uma companhia perfeita. Mas... se forem voltar... tô dentro! Já fui uma vez, mas retornar aos jardins e entrar, literalmente, nas telas de Monet é um sonho... até para quem, como eu, só conhece depois que vê e gosta, e só então se pergunta: Quem? Quando? Onde? Hã? :P
    beijuuuus

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  2. Me emocionei ao ler seu post. Quem bom eu ter participado desse momento tão emocionante. Emocionante pra você Professora de Arte, emocionante pra mim, recém apaixonada por Arte! Um dos melhores passeios até o momento. Pela beleza, pela aula de arte na visita ao museu, pela companhia! Obrigada! Obrigada mesmo!

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