3.5.10

Primeiro de Maio














































Primeiro de maio em Paris. Place République lotada de gente, reivindicando seus direitos nas mais diversas causas: imigrantes, aposentados, homossexuais, anarquistas, ecologistas. É absolutamente comovente ver tantas pessoas juntas se assegurando de sua cidadania.
Tirei muitas, muitas fotos, de um dia que jamais vou esquecer.
Para tornar tudo melhor, ainda consegui me ver metida em uma discussão com um segurança do MacDonalds que queria me impedir de fotografar - da rua! - a fachada da lanchonete e os clientes comendo lá dentro, alheios à tudo. Inacreditável, o sujeito queria me obrigar a apagar as minhas fotos! Começamos a discutir, as pessoas começaram a olhar e uma senhora veio me ajudar, dizendo para o rapaz algo básico: 'estamos em uma democracia, a moça está na rua e fotografa o que ela quiser!' A discussão começou a chamar a atenção e o segurança acabou desistindo. Essas atitudes sempre me fazem pensar no conceito de Eugène Enriquez, que fala sobre o 'perverso qualquer', ou seja, aquele que exerce o seu poder restrito ao seu pequeno universo, apenas nos momentos nos quais lhe parece que ele está revestido por essa 'casca' - que pode ser uma profissão, um lugar social, etc... - que parece lhe permitir se sentir maior e mais importante. Diz o sociólogo:

O "perverso qualquer" é apenas um pequeno homem que caricatura o grande.[...] O "perverso qualquer", tentará fazer do seu pequeno mundo, um mundo que lhe convenha, com os seus lazeres, suas drogas, seus jogos, seus esportes e seus êxtases.*

Fiquei pensando que, infelizmente, o nosso mundo está cada vez mais pleno dessas lamentáveis figuras...


*ENRIQUEZ, Eugène. L’ideal type de l’individu hypermoderne: l’individu pervers ? In: Aubert, Nicole. L’individu hypermoderne: sociologie clinique. Ramonville Saint-Agne: Éditions Éres, 2004.


3 comentários:

  1. La force aux travailleurs! Sinto ter perdido o 1º de maio francês por estar em terras lusitanas nesta data... adorei as fotos e os gatos então? Putz, os franceses sabem fazer manifestação né? Será um pouco de prática? Um pouco de charme? Os dois...
    Estranho para nós, brasileiros, acostumados à "mélange" das passeatas, ver os grupos organizados: um depois do outro, separados por alguns passos... até pra passeata há um "quê" de ordre contre la ordre, n´est pas?

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  2. Você pegou bem o espírito do dia, Débora. É isso mesmo, tudo organizado, muitas crianças participando, nenhum sinal de confusão. Mesmo o 'entrevero' com o segurança da lanchonete acabou quando ele percebeu que, além de chamar a atenção, não ia dar em nada.
    Os caras sabem mesmo fazer mobilizações coletivas. Afinal, foram eles que fizeram aquela que deu origem aos valores que passaram a reger a sociedade francesa (e boa parte da ocidental) da modernidade até hoje: liberdade, igualdade, fraternidade.

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  3. Adoro os posts e comentários! Está sendo enriquecedor pra mim participar de tudo isso. Obrigada pela oportunidade... Pena também não estar aqui no 1 de maio. Mas estava em terras holandesas me divertindo e salvando nossa amiguinha, como você mesma disse. Na próxima manif quem sabe?

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